Expressei e reitero minhas condolências pela morte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. A solidariedade humana fala mais alto em momentos como este, acima das divergências políticas, sobretudo pela razão do falecimento: uma doença traiçoeira e dolorosa que leva um político em plena juventude. Solidarizo-me com a família e com os amigos mais próximos pela perda.

Do ponto de vista político, Bruno Covas em São Paulo representou um modelo de governo antipopular, típico da tradição tucana. Mais ainda, uma gestão influenciada por João Doria, seu padrinho. Leal a este projeto anti-povo, Covas destruiu as políticas inclusivas desenvolvidas pelos governos petistas, sobretudo aquelas do governo Fernando Haddad, e administrou a cidade com os olhos nos interesses dos empresários que o apoiavam.

Não é possível saber como seria a trajetória de Covas fora da influência de João Doria. O fato é que, se não era truculento no trato pessoal e no relacionamento com seus pares na política institucional, seu comportamento foi o oposto quando se tratou da interação com as entidades sindicais e movimentos sociais e na política mais geral do país. Defendeu e votou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, sufocou movimentos de representação do funcionalismo municipal, a quem tratou a pão e água, e não investiu na melhoria das condições de vida da população que mais necessita do poder público.

Sua administração deu continuidade às políticas higienistas de Doria no centro e nas regiões mais nobres da capital. Com o agravamento da crise econômica e social do país e de sua doença, o vice Ricardo Nunes assumiu a prefeitura e simplesmente abandonou a população em situação de rua à própria sorte, colocando pedras em viadutos para impedir a sua presença. Ao mesmo tempo, o tratamento dado por Covas e seu vice aos dependentes químicos que ocupam a chamada “cracolândia” é bem exemplar da forma como o neoliberalismo trata os problemas sociais: repressão policial e nada mais.

Na educação, mais do mesmo: desinvestimento, nenhuma valorização aos seus profissionais, nenhuma política de melhoria da qualidade e, no caso das creches, muita propaganda e nenhuma efetividade. As filas em busca de vagas continuam grandes e a demanda foi parcialmente atendida por meio de convênios que oferecem serviços de qualidade duvidosa. No caso dos CEUs, política educacional inovadora desenvolvida pela administração petista de Marta Suplicy, o que se viu foi apadrinhamento e descontinuidade do projeto pedagógico que articulava ensino, cultura e esportes.

É difícil fazer prognósticos sobre o futuro do governo da capital. O novo prefeito, é um eminente desconhecido. As referências não são boas. Ricardo Nunes é empresário, foi vereador, e dele nunca se ouviu uma palavra de preocupação com os problemas sociais da maior cidade do país, que agora passa a governar. É alvo de investigação do Ministério Público por superfaturamento de creches privadas com as quais a prefeitura tem convênio, assim como de favorecimento a uma associação gerida por ex-funcionários seus. Chegou a ser acusado pela esposa de violência doméstica, mas ela mudou a versão posteriormente.

Lamentavelmente, parece não haver nada de bom a esperar, a não ser mais luta.

 

*Professora Bebel é deputada estadual (PT) e presidenta da APEOESP