Que filme incrível! Paul Thomas Anderson, mais uma vez, demonstra por que é um dos cineastas mais fascinantes da sétima arte. O humor negro do diretor, reminiscente de seus contemporâneos, os irmãos Coen, está presente em cada frame: refinado, irônico, sutil e, ao mesmo tempo, impactante. Este longa, se fosse adaptado para televisão, renderia facilmente uma temporada de “Fargo” — tanto em construção narrativa quanto em atmosfera.
O filme é, acima de tudo, um retrato político profundo e atual. PTA não evita o debate sobre imigração e os centros de detenção de estrangeiros, expondo a violência cotidiana que esses espaços institucionalizam. Em tempos de polarização política, o filme ecoa como crítica contundente ao tratamento dado aos imigrantes, questionando políticas governamentais de exclusão e xenofobia. É impressionante pensar que Hollywood tenha aprovado algo tão incisivo em plena era Trump; Anderson não se curva, ele confronta.
Leo DiCaprio, mais uma vez, é brilhante. Sua filmografia é deveras impecável — escolhas precisas, projetos de qualidade inquestionável — e aqui não é diferente. Seu antagonismo com Sean Penn, cria uma tensão dramática e cômica ao mesmo tempo. Sean Penn, (será que a indicação ao Oscar de coadjuvante virá?) reforça a parceria com Benicio Del Toro que já vimos florescer em outros filmes, atuando juntos em “21 Gramas” (2003) e Penn o dirigindo em “A Promessa” (2001).
O filme combina humor negro com uma caricatura às vezes à la “South Park”, mas sem perder a essência. A narrativa consegue equilibrar sarcasmo, ironia e ternura, em especial nas cenas que flertam com a revolução: o revolucionário de meia-idade, cansado de pular barricadas e jogar coquetéis molotov, é uma figura tragicômica que dialoga com o presente político — o descompasso entre ideais radicais e a realidade cotidiana de um pai solo, uma metáfora para movimentos sociais esgotados e governos igualmente ineficazes.
A fotografia é deslumbrante. Destacam-se as sequências no telhado, em que silhuetas e sombras se misturam com movimentos urbanos, criando imagens quase poéticas. As cenas de perseguição lembram “Encurralado”, primeiro longa-metragem de Spielberg, mas com um olhar contemporâneo - em primeira pessoa - explorando curvas, lombadas e nuances de forma quase hipnótica. Jonny Greenwood, guitarrista da banda inglesa Radiohead mantém a tensão e a imersão com uma trilha sonora magistral, que varia entre suspense e comicidade culminando em momentos de pura exuberância.
Além disso, o filme é um estudo de ritmo e narrativa. É longo, mas não cansativo; o humor é ácido, mas também há espaço para um drama singelo; há sensualidade, ação e diálogos memoráveis. As cenas hilárias, (como DiCaprio tentando lembrar os códigos dos revolucionários) combinam leveza e crítica, e fazem rir sem perder o peso social do filme.
No fim das contas, “Uma Batalha Após a Outra” é um filme que em tempos de América turbulenta, consegue nos entregar diversão, crítica e arte com a mesma intensidade.
Ficha Técnica:
Título: Uma Batalha Após a outra
Título Original: One Battle After Another
Direção: Paul Thomas Anderson
Ano: 2025