algum tempo, o presidente Lula vem dizendo que se o pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Ricardo Boulos, for vitorioso nas eleições de outubro, na verdade, não só o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes, será derrotado, mas também o bolsonarista Tarcísio de Freitas e o próprio bolsonarismo paulista.

Evidente que Ricardo Nunes e os bolsonaristas sabem disso. Não à toa que impuseram um rearranjo nos apoios partidários, a partir da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), para evitar a “Onda Boulos” que, segundo as pesquisas eleitorais, colocam a pré-candidatura de Ricardo Nunes em perigo.

Para tanto, a direita e a extrema-direita movimentaram-se e colocaram a máquina à favor da pré-candidatura do prefeito, nem que para isso tivessem que passar por cima de correntes político-partidárias históricas.

Na última “janela partidária”, em que os políticos podem num prazo determinado, mudar de partido, o estrago foi gigantesco. Ao todo, 20 vereadores mudaram de partido. O PSDB “sumiu”. Os 8 vereadores abandonaram a sigla. O PTB, PSC, PSL e Solidariedade também desapareceram. O MDB, de Ricardo Nunes, foi, evidentemente, o grande beneficiado. O partido pulou de 6 para 11 vereadores, conquistando a maior bancada da Casa (lembrando que a sigla só elegeu 3 vereadores nas eleições de 2020). O PSD e o PL pularam de 3 para 6 vereadores. O PT ganhou um vereador, indo de 8 para 9 parlamentares. O PSOL perdeu 1, caindo de 6 para 5 vereadores.

Conclusão; dos 55 vereadores da Câmara Municipal, 30 passaram a apoiar Ricardo Nunes; 15 estão com Guilherme Boulos; 7 apoiam Kim Kataguiri; 2 apoiam Tábata Amaral; e 1 vereador apoia Maria Helena. Os outros pré-candidatos não têm apoio de vereadores.

Alianças

A Aliança/Coligação formada por 10 partidos políticos, além do robusto apoio de vereadores, para reconduzir o bolsonarista Ricardo Nunes à prefeitura, tem o potencial de lançar até 560 candidatos à Câmara Municipal. Essa força descomunal terá um excelente tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Sem contar com o fenômeno das redes sociais que são muito bem utilizadas pelos bolsonaristas.

Já o pré-candidato Guilherme Boulos, que conta com o apoio de seis partidos políticos e com 15 vereadores, tem um potencial de lançar 168 candidatos à Câmara Municipal. A desvantagem é muito grande. Depende.

A princípio, a força da máquina à favor de Nunes é considerável. No entanto, em hipótese alguma quer dizer que a eleição já esteja decidida. Ao contrário, o pré-candidato Boulos, pela primeira vez, conseguiu unificar a esquerda e a centro esquerda e conta com uma militância que também utiliza as redes sociais.

E o mais importante, tanto a pré-candidatura de Nunes, quanto a de Boulos contam com ilustres apoios que podem ser decisivos para definir o próximo prefeito de São Paulo.

O presidente Lula, declarou abertamente o seu apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos, durante as festividades do 1º de Maio, o que desesperou a extrema-direita. E por que? Porque, segundo as pesquisas de opinião divulgada pelo DataFolha, em março, 63% dos eleitores de São paulo não votariam de jeito nenhum em um candidato indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Somente 42% rejeitam um pré-candidato apoiado por Lula.

Por outro lado, 17% dos eleitores disseram que votariam num candidato apoiado por Bolsonaro. Outros 19% poderiam votar. Em contrapartida, 24% votariam num candidato apoiado por Lula e outros 31% talvez escolhessem o candidato do presidente.

Outros números

Vale lembrar que tanto Lula, quanto o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando foi candidato a governador, venceram as eleições na cidade de São Paulo, em 2022, no primeiro e no segundo turnos; Lula, com 47,54% e 53,54%, e Haddad com 44,38% e 54,41%, respectivamente.

Apesar da vantagem inicial assustadora de Ricardo Nunes, o potencial de Boulos é de franco crescimento. Segundo a última pesquisa espontânea feita pelo Paraná Pesquisas, divulgado no último dia 2, o candidato lulista, Guilherme Boulos (o Deputado Federal mais votado no Estado de São Paulo, com mais de 1 milhão de votos), tem 9,6% das intenções. Já o candidato bolsonarista, Ricardo Nunes, tem 11%. Empate técnico.

Nas pesquisas estimuladas, divulgadas pelo DataFolha, ambos também estão empatados tecnicamente. Boulos tem 30% e o prefeito, 29%. Tabata Amaral aparece com 8%.

Outros candidatos

Tabata Amaral, candidata apoiada pelo vice-presidente, Geraldo Alckimin, não pode ser descartada da corrida eleitoral. Seu discurso encanta pela forma com que expressa sua ideologia neoliberal preparado pelos grandes grupos financeiros, como o Itaú, ou do Grupo Leman (do mesmo que faliu a Lojas Americanas). Tem também apoio de Luciano Huck. Pode contar com apoio do PSDB e do Cidadania.

Ainda se reestabelecendo de uma recém cirurgia no aparelho digestivo, o apresentador José Luiz Datena, o eterno candidato, também não pode ficar de fora das análises sobre a corrida à Prefeitura de São Paulo. Como candidato oficial ou a vice em alguma chapa (muito provavelmente a de Tábata Amaral), Datena é forte concorrente. De qualquer forma, as análises políticas dão conta que seu nome seria, num eventual segundo turno entre Nunes e Boulos, um forte apoiador do candidato de Lula.

Outro pré-candidato é o Deputado Federal de extrema-direita, Kim Kataguiri, que corre por fora. Neste caso, é preciso atenção com as pretensões políticas do presidente da Câmara, vereador Milton Leite, do mesmo partido de Kim. E, por falar no todo poderoso presidente da Câmara Municipal, o nome da também vereadora, Rute Costa, ganhou força nos bastidores do MDB para tornar-se vice na chapa de Ricardo Nunes. Rute é evangélica e filha do pastor José Wellington Bezerra da Costa, ligado a Jair Bolsonaro. A vereadora não teria, até agora, o veto de Milton Leite, nem do governador bolsonarista, Tarcísio de Freitas.

Boulos: propostas assertivas

Outro fator que pode alavancar a pré-candidatura de Guilherme Boulos são as propostas e ações assertivas que vem divulgando. Por exemplo, diante de empresários, lideranças comunitárias, artistas e profissionais de diferentes áreas, o pré-candidato acompanhado de ex-prefeita Marta Suplicy, anunciaram, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, no Club Homs, que o secretariado da administração municipal, caso vençam as eleições, terá paridade de gênero. Isso significa que ao menos 50% das secretarias municipais serão chefiadas por mulheres. A administração Nunes tem apenas 9 mulheres à frente das 35 secretarias.

O deputado também acionou o Ministério Público para que a gestão Ricardo Nunes seja investigada pela contratação de empresas de ônibus com ligações com o crime organizado. Boulos apresentou também uma PEC para destinar R$ 4,4 bilhões em emendas parlamentares ao Rio Grande do Sul.

Boulos também entrou com processo no TJ-SP contra Jair Bolsonaro por danos morais em razão da disseminação de fakenews. O ex-presidente teria adulterado uma reportagem sobre os dados de fugas em presídios, inserindo fotografia de Boulos e do presidente Lula e divulgando em seu perfil no X.

Novidades

A pré-campanha de Boulos também já divulgou o início das atividades do “São Paulo Urgente”, um programa jornalístico criado para noticiar problemas da capital paulista e irregularidades da administração municipal. Anunciou também a reativação do “Gabinete do Amor” para combater fakenews na pré-campanha. O gabinete, criado em 2020, estará no instagram (@gabinetedoamorbr) e será produzido por voluntários.