Kleber Mendonça Filho volta a Recife para expor um Brasil que muita gente preferia esquecer.
A película “O Agente Secreto” não recria apenas os anos 70: ela revive um país em ruína, cheio de pequenos poderes, paranoia, pirraça e histórias que nunca chegaram aos livros. É um thriller político que mistura investigação, humor brasileiro, lendas urbanas e o tipo de tensão que o diretor pernambucano consegue encenar sem parecer construído demais.
Wagner Moura está ótimo como Marcelo, (inclusive recebeu, agora em dezembro, o prêmio de melhor ator no New York Film Critics Circle Awards) tentando sobreviver num território onde tudo se vigia, tudo se julga e tudo se esconde. A recriação histórica é monumental: carros, ruas, letreiros, cinemas de bairro, o calor da cidade…Recife vira personagem, testemunha, cúmplice e vítima.
Kleber confronta um apagamento histórico que segue vivo. Mostra desaparecimentos, corpos sem nome, a violência do regime militar, mas também os absurdos populares — como a lenda da perna cabeluda — que funcionam aqui como metáforas de um medo coletivo que nunca se resolveu. O filme oscila entre realismo, pesadelo e ironia, exatamente como a memória brasileira costuma fazer.
Não é um filme focado na ditadura brasileira em si, perpassa sobre o que ela deixou: cicatrizes, silêncio, trauma. E sobre como o Brasil insistiu e tentou repetir seus próprios fantasmas.
No fim, “O Agente Secreto” é cinema autoral de verdade: imperfeito, inquieto, ambicioso e muito vivo e com ele Kleber Mendonça Filho ganhou o prêmio de melhor diretor do Festival de Cannes de 2025, sendo apenas a segunda vez na história que um diretor brasileiro recebe a honraria - o outro foi Glauber Rocha, em 1969, por seu “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”.
Ficha Técnica:
Título: The Secret Agent
Título Original: O Agente Secreto
Direção: Kleber Mendonça Filho
Ano: 2025


