No último dia 15 de setembro, a Academia Brasileira de Cinema anunciou que O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, será o representante do Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional. A escolha, no entanto, não veio sem polêmica.

O filme estrelado por Wagner Moura teve como principal concorrente Manas, de Marianna Brennand, que até então não era considerado, até que Sean Penn entrou em cena. O astro hollywoodiano assumiu a função de produtor executivo da distribuição do longa nos Estados Unidos e promoveu exibições estreladas, com direito a Julia Roberts e votantes da Academia na plateia.

Manas trata da violência sexual contra meninas na Ilha de Marajó, no Pará, e já acumula 28 prêmios desde a estreia em Veneza, em 2024. O prestígio rendeu ao filme mais uma conquista: a indicação para representar o Brasil no Prêmio Goya, a principal celebração do cinema ibero-americano.

Enquanto isso, nas redes sociais, a disputa ganhou novos capítulos. Fernanda Torres elogiou publicamente o filme de Marianna, citando o papel de Sean Penn em campanhas passadas, como a de Ainda Estou Aqui. A repercussão foi tamanha que a atriz precisou se retratar em vídeo: “Meu post sobre Manas não era campanha para escolher ninguém para o Oscar. Acho que um filme ser escolhido não significa que o outro foi rejeitado. Sou a favor de todos.”

A tensão aumentou quando mais de 70 empresários, incluindo nomes ligados à própria família Brennand, assinaram uma carta de apoio à candidatura de Manas. Não demorou para surgir, em contrapartida, uma movimentação no X (antigo Twitter) em favor de O Agente Secreto, com a hashtag #OAgenteSecretoNoOscar. Alguns lembraram até do episódio de 2017, quando Aquarius, também de Kleber, foi preterido em favor de Pequeno Segredo, em meio ao barulho político contra o governo Temer, em Cannes, quando parte do elenco levantou cartazes contra o novo presidente e defendendo a permanência de Dilma Rousseff no poder.

Seja como for, a força de O Agente Secreto é inegável. O longa fez história em maio, ao levar quatro prêmios em Cannes, incluindo Melhor Ator para Wagner Moura e Melhor Direção para Kleber. A trama, ambientada em Recife em 1977, acompanha Marcelo, um especialista em tecnologia que tenta escapar de um passado obscuro, mas descobre que sua cidade está longe de ser refúgio.

Os concorrentes internacionais

Agora, a disputa é global. Apenas cinco filmes chegarão à lista final da categoria internacional no Oscar 2026. Entre os favoritos estão:

  • Sentimental Value (Noruega), vencedor do Grand Prix em Cannes.

  • No Other Choice (Coreia do Sul), premiado em Toronto e dirigido pelo mesmo autor de Oldboy.

  • It Was Just an Accident (Irã/França), Palma de Ouro em Cannes, com distribuição também da Neon.

Outros nomes fortes incluem In die Sonne schauen (Alemanha), Sirât (Espanha) e The Voice of Hind Rajab (Tunísia), este último um retrato contundente de Gaza que tem gerado debates acalorados.

Vale lembrar: O Agente Secreto também conta com a força da Neon, distribuidora de peso em Hollywood. A campanha começou cedo, ainda em maio, e Wagner Moura tem hoje mais visibilidade no mercado norte-americano. Kleber, por sua vez, já foi lembrado pela Academia com Retratos Fantasmas.

Em dezembro sai a pré-lista. Até lá, fica a torcida para que, entre tantas disputas políticas e lobbies internacionais, a força do cinema brasileiro continue encontrando espaço no maior palco do cinema mundial.

Autoria
Thais Linhares é Cientista Social, com mestrado pela UNESP e Analista de Pesquisa. É colunista do CCN Notícias
Artigos publicados