Há poucos dias, todas e todos nós fomos inundados de mensagens e propagandas celebrando o Dia das Mães. Tudo o que nós, mães, queremos é poder ser mãe, cuidar da melhor forma de nossos filhos, fazer o máximo para que eles tenham um futuro melhor. Mas, novamente, a população vulnerável é excluída desse direito na luta pela sobrevivência de seus filhos.

Foi com sentimento de indignação que li duas matérias na imprensa publicadas nos últimos dias. A primeira, sobre o levantamento divulgado pela Folha de S. Paulo sobre o aumento do número de crianças com menos de dois meses que precisam ficar em creches para as mães trabalharem. Entre elas, um bebê de 19 dias.

O número de bebês de até dois meses nas creches neste ano é quase o dobro do registrado no mesmo mês do ano passado e 22 vezes maior do que em abril de 2019, antes da pandemia.

Na última semana de abril, havia 3.741 bebês com menos de quatro meses matriculados nas creches da rede municipal da cidade. Desses, 63 têm menos de 30 dias de vida e 539 menos de 60 dias.

Não sou contra colocar filhos em creche, nem defendo que a mãe seja a única responsável por se abnegar pelos cuidados da criança.

É muito triste para uma mãe ter que deixar seus filhos numa creche, durante a chamada “gestação externa”, ou seja, antes de completar dois meses, período em que o bebê ainda está fazendo a transição para o mundo fora do corpo da mãe, porque precisa trabalhar.

A crise econômica faz com que essas mulheres tenham que procurar a creche pública com muito mais antecedência do que procurariam, se elas tivessem segurança alimentar, trabalho, emprego e renda.

O outro levantamento, divulgado pelo Brasil de Fato, sobre pesquisa do Observatório de Saúde na Infância, mostra que o Brasil retrocedeu no controle da mortalidade infantil.

Duas a cada três mortes de bebês de até 1 ano poderiam ser evitadas com medidas básicas de saúde, como acompanhamento pré-natal adequado, incentivo à amamentação e combate à queda na cobertura vacinal.

Em 2015, o Brasil era um dos poucos países que tinha alcançado um dos objetivos do milênio, quando reduziu pela metade as mortes infantis.

Agora, são mais de 20 mil casos de mortes evitáveis de crianças com até 1 ano por doenças que têm tratamento, como diarréia e pneumonia.

Essas notícias terríveis são reflexos diretos da reforma trabalhista, que tirou de muitas mulheres o direito à licença-maternidade.

São reflexos da omissão do atual governo, que não governa para os que mais precisam e que precariza o trabalho para mães e pais, fazendo as mães precisarem ir para o mercado de trabalho para garantir a alimentação, a moradia e a sobrevivência de suas famílias.

É reflexo do ataque às vacinas pelo governo negacionista. O resultado é que 26 bebês morreram por sarampo. Na última década, foram três. É reflexo da tentativa de desmonte da saúde pública.

Nós, mães, gostamos de carinho, de afagos e até de presentes. Mas o que queremos mesmo são nossos filhos vivos, com saúde e com futuro.