Apresentei há alguns dias um requerimento para aprovação pela Câmara dos Deputados de “Moção de Solidariedade ao Padre Júlio Lancellotti”.

O clérigo vem sofrendo constantes ataques em virtude do seu trabalho pastoral e social na defesa das pessoas em situação de rua e denunciando as violências que essa população é vítima.

Pároco da Igreja São Miguel Arcanjo, do bairro da Mooca, e coordenador da Pastoral do Povo de Rua, Padre Júlio é conhecido por dedicar mais de três décadas de atenção e afeto para pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo, enfrentando críticas e ameaças de radicais de extrema-direita.

Defensor intransigente dos direitos humanos, em 2021, o padre foi destaque na mídia nacional ao remover à marretas pedras pontiagudas colocadas sob o Viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, na Zona Leste, pela Prefeitura de São Paulo. A arquitetura era para impedir a permanência no local da população em situação de rua. Com a repercussão, a gestão do então prefeito Bruno Covas (PSDB) removeu as pedras.

Padre Júlio está sempre atento às minorias: "O movimento LGBT, a defesa dos trans, dos discriminados, dos presos, da população de rua, que é o amálgama do que não se quer, dos doentes, dos prostituídos, dos dependentes químicos. Enfim, desses que são considerados os restos e discriminados pela sociedade que incomodam os que se sentam às mesas", afirma o padre.

O seu trabalho pastoral, destemido, e sua opção radical em favor dos menos favorecidos, tem lhe rendido uma oposição feroz dos setores contrários a essa leitura de mundo feita por ele. 

No fim do ano passado, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal de São Paulo foi proposta para alvejar o Padre Júlio, sob o pretexto de investigar as organizações não-governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, em São Paulo.

Essa CPI faz parte da rede de desinformação, de ódio, intolerância e que ainda permanece ativa no Brasil, colocando em risco a plenitude de nossa democracia.

Esse é o cenário, recorrente, de intolerância e uma perseguição implacável que vem sofrendo por toda a sua obra e prática de vida, em que desagrada e confronta os poderosos.

Processos são constantes na sua história. Já foi processado por Jair Bolsonaro, por chamá-lo de homofóbico, racista e machista, e é alvo de ameaças de morte e agressões em redes sociais por sua atuação diante das políticas higienistas da Prefeitura de São Paulo. “Isso faz parte da prática de desqualificar quem defende os direitos humanos", diz o padre.

Autoria
Juliana Cardoso é deputada federal eleita para o mandato 2023/2026. Faz parte da Comissão de Saúde e da Comissão de Mulheres, além de suplente na Comissão dos Povos Originários e Amazônia. É colaboradora do CCN Notícias
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