O protagonismo do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores na cena política nacional – e também internacional – faz com que nas última duas décadas, segmentos da elite social e econômica brasileira se desdobrem em buscar “terceiras vias” para disputar as eleições contra o PT, tentando mostrar-se distantes do extremismo de direita que tem hoje o bolsonarismo como seu representante.
Neste afã, esses segmentos e seus veículos na mídia comercial – jornais, rádios, TVs e também portais na internet e redes sociais ligados a esses interesses – tentam transformar barro em ouro. Um exemplo é o que se tenta fazer com a figura de Tarcísio de Freitas.
Ex-capitão do Exército, Tarcísio participou da controversa missão da ONU no Haiti, entre 2005 e 2006, parte deste tempo sob comando do general Augusto Heleno, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 21 anos de prisão por participar da tentativa golpista liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi Diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) no governo de Dilma Rousseff, mas ganhou projeção como ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro. Sua gestão foi marcada por privatizações e grandes negócios na área de rodovias, por meio dos quais construiu uma sólida relação com as empresas do setor.
A postura política de Tarcísio nada tem de moderada, como pretendem vender à sociedade os meios de comunicação que desejam alavancar sua candidatura presidencial. Realiza em São Paulo um governo autoritário, que não respeita os direitos do funcionalismo, que faz do assédio moral um método de administração, e não tem o menor pudor de utilizar a força policial para oprimir os segmentos mais pobres da população paulista, sempre no sentido de atender aos interesses dos segmentos privilegiados da sociedade. São Paulo registrou um aumento de 59,2% nas mortes decorrentes de intervenção policial entre 2023 e 2024, de acordo com a sexta edição do relatório “Pele Alvo: crônicas de dor e luta”, divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança. Do total de vítimas, 66% eram negras.
Neste momento há um debate nacional sobre a segurança pública desencadeado pela matança de 121 pessoas em operação realizada pelo governador Claudio Castro no Rio de Janeiro e também pela bem sucedida operação Carbono Oculto, realizada pelo governo federal em agosto, que atingiu o coração financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e prendeu agentes financeiros que praticavam lavagem de dinheiro para a organização, assim como desvendou um esquema do PCC no setor de combustíveis, sem disparar um tiro.
E o que fez o governador Tarcísio de Freitas diante deste debate? Enviou seu secretário da Segurança Pública de volta à Câmara dos Deputados para desfigurar o projeto de lei do presidente Lula contra o crime organizado. Guilherme Derrite é ex-policial, excluído das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), por “excesso de mortes” e foi eleito deputado federal em 2022. Na qualidade de relator do projeto, Derrite alterou a proposta de Lula, retirando recursos da Polícia Federal e, ao não revogar legislações correlatas pré-existentes, cria uma situação que levará à aplicação de penalidades mais brandas para o crime organizado. Por isso, o substitutivo de Derrite está sendo chamado de “PL da blindagem 2”, numa referência ao projeto derrotado na Câmara que impedia a investigação de crimes de parlamentares. Espero que o Senado o altere.
Tarcísio de Freitas pede anistia a Bolsonaro e demais golpistas condenados, mantém ou manteve em seu governo pessoas ligadas a atividades criminosas, pratica cada vez mais discursos de ódio contra o Partido dos Trabalhadores, contra a esquerda de forma geral e até mesmo contra o presidente Lula, a quem finge respeitar quando lhe convém.
Tarcísio não é terceira via. É a mesma via autoritária de Bolsonaro e sua turma.


