No final do mês de setembro, na cidade de Serra Negra, a APEOESP, maior sindicato da América Latina, do qual tenho a honra de ser a segunda presidenta, realiza seu XVIII Congresso Estadual.

Neste mês de agosto, em todas as 94 subsedes do nosso sindicato, realizaremos encontros estaduais preparatórios para a eleição de 1600 delegadas e delegados que participarão do Congresso, para deliberar sobre os rumos da entidade no próximo período, envolvendo as lutas pelas reivindicações específicas da categoria, as lutas do funcionalismo e do conjunto da classe trabalhadora e também a defesa das pautas que interessam a toda a população, a começar pela educação e serviços públicos de qualidade, democracia, soberania nacional, justiça tributária, meio ambiente, desenvolvimento sustentável.

Estamos convidando para participarem do Congresso, centrais sindicais, entidades da área da educação, entidades estudantis, de pais, movimentos sociais da cidade e do campo, organizações da sociedade civil. Queremos sair deste Congresso com um pacto entre todos esses segmentos em torno de todas essas lutas e, sobretudo, com um compromisso de defendermos todos os avanços políticos, econômicos, sociais e culturais já alcançados, sem admitir qualquer tipo de retrocesso.

O passo que pretendemos dar neste Congresso é muito importante. Queremos avançar no processo de horizontalização do nosso sindicato. O que isso quer dizer? Quer dizer que, sem nenhum desmonte ou prejuízo à estrutura vertical de instâncias decisórias (Congresso, Assembleia, Conselho Estadual de Representantes, Diretoria Estadual Colegiada, Comissão Executiva, GT Político, Assembleias regionais, Comissões Executivas regionais), estabelecermos relações mais amplas, institucionalizadas no nosso estatuto, com as entidades e movimentos a que já me referi anteriormente, em cima de pautas comuns e movimentos de interesse geral, com destaque para a educação e serviços públicos.

Essa horizontalização significa uma evolução natural no processo que a APEOESP vem vivenciando nos últimos anos, particularmente após a segunda mais longa greve já realizada pelos professores paulistas, quando permanecemos paralisados durante 92 dias em 2015. Esta greve atraiu amplo apoio social, inclusive de torcidas organizadas de futebol, artistas, personalidades, intelectuais, entidades estudantis, movimentos sociais, centrais, sindicatos e outras organizações.

Após a greve, tomamos a iniciativa de constituir o Grito pela Educação Pública de Qualidade no Estado de São Paulo, com a participação de dezenas de organizações. Essa organização foi fundamental naquele segundo semestre de 2015, quando o então secretário da Educação, Herman Woorvald, anunciou o fechamento de 94 escolas e a “reorganização” de outras 754, o que afetaria a vida de 311 mil estudantes e suas famílias, com transferências para outras unidades escolares. Em outubro, realizamos uma grande manifestação que caminhou desde a Praça da República até a Praça da Sé, na Capital, e em novembro daquele ano, com nosso apoio, estudantes e movimentos ocuparam dezenas de escolas para impedir seu fechamento. Fomos vitoriosos e o secretário foi exonerado.

A horizontalização que pretendemos também repercutirá dentro das escolas, hoje ameaçadas pela ampliação das terceirizações, privatização, militarização, crescente autoritarismo, assédio, vigilância, controle, plataformização, criando um ambiente que não permite que nossas escolas cumpram seu papel de oferecer aos estudantes uma sólida formação básica, baseada na liberdade de ensinar e aprender, na pluralidade de ideias e concepções pedagógicas e na gestão democrática, como prevê a Constituição Federal. Com a horizontalização, queremos que a APEOESP seja ainda mais parceira das comunidades escolares, fortalecendo os Conselhos de Escola, incentivando a participação de professores, pais, funcionários, estudantes, para que sejam os verdadeiros gestores das unidades escolares.

Não podemos permitir que o obscurantismo continue avançando nas nossas escolas e na sociedade, com mentiras e falsas acusações de “doutrinação”, quando, na verdade, nós, professoras e professores, queremos cumprir o nosso papel social, que é o de sermos agentes do conhecimento junto aos nossos estudantes, para que possam, com sólida formação e autonomia intelectual, inserir-se de forma consciente na sociedade, transformando-a, e para que possam tomar as melhores decisões quanto à vida pessoal e profissional.

 

Estou muito animada para este Congresso. Acredito que a APEOESP tem muito potencial para continuar contribuindo para um Estado de São Paulo e um Brasil melhores para a classe trabalhadora e a maioria da população.

Autoria
Professora Bebel é deputada estadual pelo PT, segunda presidenta licenciada da APEOESP e colunista do CCN Notícias
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